7 de ago. de 2006

O VERDE TUIM

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Um verde Tuim
contente vivia
em uma gaiola
que do alto pendia
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Um Gato querendo
por força o pegar
um dia o convida
para irem brincar
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Mil graças compadre
lhe diz o Tuim
já sei o que queres
conheço o teu fim
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Por isso daqui
não hei de descer
caminhas que ainda
não me hás de comer .
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E o gato se foi
pra longe a miar
e o verde Tuim
se pois a cantar .
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(Desconheço o nome do autor)
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SER MÃE

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Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração!
Ser mãe é ter no alheio
lábio que suga, o pedestal do seio,
onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.
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Ser mãe é ser um anjo que se libra
sobre um berço dormindo!
É ser anseio, é ser temeridade, é ser receio,
é ser força que os males equilibra!
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Todo o bem que a mãe goza é bem do filho,
espelho em que se mira afortunada,
Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!
Ser mãe é andar chorando num sorriso!
Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
Ser mãe é padecer num paraíso!
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Coelho Neto
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5 de ago. de 2006

CANÇÃO DO TAMOIO

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Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.
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(...)
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III
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O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves conselhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!
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(...)
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V
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E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
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VI
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Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.
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(...)
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VIII
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Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do imigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.
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IX
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E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morteTriunfa, conquista
Mais alto brasão.
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X
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As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.
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Gonçalves Dias
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MORENINHA

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Pintura de Alberto da Veiga Guignard
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Moreninha, Moreninha,
Tu és do campo a rainha.
Tu és senhora de mim;
Tu matas todos d'amores,
Faceira, vendendo as flores
Que colhes no teu jardim.
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Quando tu passas n'aldeia
Diz o povo à boca cheia:
-"Mulher mais linda não há!
"Ai! Vejam como é bonita"
Co'as tranças presas na fita,
"Co'as flores no samburá!"
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-Tu és meiga, és inocente
Como a rôla que contente
Voa e folga no rosal;
Envolta nas simples galas,
Na voz, no riso, nas falas,
Morena - não tens rival!
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Casimiro de Abreu
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MEUS OITO ANOS

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Pintura de Portinari
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Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
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Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
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Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
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Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
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Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
—Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
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Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
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................................
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Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!
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Casimiro de Abreu
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DEUS

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Pintura de Anita Malfatti
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Eu me lembro! Eu me lembro! - Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia,
A branca espuma para o céu sereno.
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E eu disse a minha mãe nesse momento:

"Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver de maior do que o oceano
Ou que seja mais forte do que o vento?"
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Minha mãe a sorrir, olhou pros céus

E respondeu: - Um ser que nós não vemos,
É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus.
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Casimiro de Abreu
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A ESTRELA

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Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
na minha vida vazia.
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Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.
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Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?
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E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
mais triste ao fim do meu dia.
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Manuel Bandeira
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TREM DE FERRO

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Café com pão
Café com pão
Café com pão
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Virge Maria que foi isso maquinista?
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Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
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Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
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Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
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Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
.
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
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Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
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Manuel Bandeira
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1 de ago. de 2006

OS SAPOS





Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
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Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
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O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
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Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
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O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
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Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
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Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
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Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
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Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
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Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
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Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
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Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
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Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
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Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
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Manuel Bandeira
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IRENE NO CÉU

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Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
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Manuel Bandeira
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O LAÇO DE FITA


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Não sabes, criança! 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
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Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos de moça bonita,
Fingindo serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
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Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
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E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
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Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita.
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Há pouco voavas na célebre valsa
Na valsa que anseia, que estua e palpita
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.
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Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.
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Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova..., formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.
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Castro Alves
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AS DUAS FLORES

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São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
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Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
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Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
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Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
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Castro Alves
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31 de jul. de 2006

CANÇÃO DO EXÍLIO

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Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
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Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
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Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Gonçalves Dias
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O CANTO DO PIAGA

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Ó Guerreiros da Taba sagrada,
Ó Guerreiros da Tribo Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.
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Esta noite — era a lua já morta —
Anhangá me vedava sonhar;
Eis na horrível caverna, que habito,
Rouca voz começou-me a chamar.
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Abro os olhos, inquieto, medroso,
Manitôs! que prodígios que vi!
Arde o pau de resina fumosa,
Não fui eu, não fui eu, que o acendi!
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Eis rebenta a meus pés um fantasma,
Um fantasma d'imensa extensão;
Liso crânio repousa a meu lado,
Feia cobra se enrosca no chão.
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O meu sangue gelou-se nas veias,
Todo inteiro — ossos, carnes — tremi,
Frio horror me coou pelos membros
Frio vento no rosto senti.
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Era feio, medonho, tremendo,
Ó Guerreiros, o espectro que eu vi.
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi!
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II
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Por que dormes, ó Piaga divino?
Começou-me a Visão a falar,
Por que dormes? O sacro instrumento
De per si já começa a vibrar.
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Tu não viste nos céus um negrume
Toda a face do sol ofuscar;
Não ouviste a coruja, de dia,
Seus estrídulos torva soltar?
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Tu não viste dos bosques a coma
Sem aragem — vergar-se e gemer,
Nem a lua de fogo entre nuvens,
Qual em vestes de sangue, nascer?
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E tu dormes, ó Piaga divino!
E Anhangá te proíbe sonhar!
E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E não podes augúrios cantar?!
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Ouve o anúncio do horrendo fantasma,
Ouve os sons do fiel Maracá;
Manitôs já fugiram da Taba!
Ó desgraça! ó ruína! ó Tupá!
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III
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Pelas ondas do mar sem limites
Basta selva, sem folhas, e vem;
Hartos troncos, robustos, gigantes;
Vossas matas tais monstros contêm.
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Traz embira dos cimos pendente
—Brenha espessa de vário cipó —
Dessas brenhas contêm vossas matas,
Tais e quais, mas com folhas; é só!
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Negro monstro os sustenta por baixo,
Brancas asas abrindo ao tufão,
Como um bando de cândidas garças,
Que nos ares pairando —lá vão.
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Oh! quem foi das entranhas das águas,
O marinho arcabouço arrancar?
Nossas terras demanda, fareja ...
Esse monstro. . . — o que vem cá buscar?
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Não sabeis o que o monstro procura?
Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!
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Vem trazer-vos crueza, impiedade —
Dons cruéis do cruel Anhangá;
Vem quebrar-vos a maça valente,
Profanar Manitôs, Maracá.
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Vem trazer-vos algemas pesadas,
Com que a tribo Tupi vai gemer;
Hão de os velhos servirem de escravos
Mesmo o Piaga inda escravo há de ser!
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Fugireis procurando um asilo,
Triste asilo por ínvio sertão;
Anhangá de prazer há de rir-se.
Vendo os vossos quão poucos serão.
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Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,
Susta as iras do fero Anhangá.
Manitôs já fugiram da Taba,
Ó desgraça! ó ruína! ó Tupá!
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Gonçalves Dias
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A PÁTRIA

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.Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!

Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas,
onde imperaFecunda e luminosa,
a eterna primavera!
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Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
.
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
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Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
.
Olavo Bilac
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A BONECA

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Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
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Dizia a primeira:"É minha!"
— "É minha!" a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
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Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
.
Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
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E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca . . .
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Olavo Bilac
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A CASA QUE PEDRO FEZ



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Esta é a casa que Pedro fez
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. .
Este é o trigo
Que está na casa que Pedro fez
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Este é o rato
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
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Este é o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fêz.

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.
Este é o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Quês está na casa que Pedro fez.
.
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Esta é a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.

..
Esta é a moça mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez .

.
Este é o moço todo rasgado,
Noivo da moça mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.

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Este é o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Noivo da moça mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo,
Que está na casa que Pedro fez.

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Este é o galo que cantou de manhã,
Que acordou o padre de barba feita,
Que acsou o moço todo rasgado,
Noivo da moça mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
.

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Este é o fazendeiro que espalho o milho,
Que tinha o galo que cantou de manhã,
Que acordou o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Noivo da moça mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez .

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(Ad. De M. L. Figueiredo)

29 de jul. de 2006

A FESTA NO CÉU



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Em certas manhãs de junho
em tempos que lá se vão
junto a lagoa do sapo
lá no meio do sertão
mestre sapo numa pedra
redondo como uma bola
ensinava tabuada
aos sapinhos lá da escola :
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"- Quatro vezes quatro , quatro,
Com mais quatro , quatro ! "
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"- Tá errado ! "
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A velha dona Araponga
que era o arauto da floresta
fazendo um berreiro enorme
anunciava uma festa:
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“São Pedro manda avisar
Aos bichos deste sertão
A grande festa no céu
Na noite de são João .
Não deve faltar na festa
Nem um bicho voador
Do mosquito a borboleta
Do colibri ao condor
E para bicho sem asa
Não fazer vestido à-toa
Manda avisar que a festança
É só pra bicho que voa !”
. .
A madame Saracura
Que se julgava a mais bela
E andava as turras com um sapo
Que a chamara magricela
Ao ouvir a tal notícia
Pulou de louca alegria
E em dueto com o marido
Começou a cantoria:
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Vai haver festa no céu
Vou levar meu violão
Vou cantar a noite inteira,
Bam, banlão, bambão, bambão
A festança vai ser boa
Vai ter canjica e quentão
Mas só vai bicho que voa,
Bam, banlão, bambão, bambão
.
Quando a canção terminou
o sapo fez um escarcéu
E saiu gritando:
.
"- Oxe ! Eu vou a festa no céu !
Saracura ta pensando que eu só vivo na lagoa?
Vou mostrar a magricela
Vou provar que sapo voa
Vou tirar minha casaca lá do fundo do baú
Já decidi
Vou a festa, no violão do urubu !"
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Chegou a manhã da festa
Desde cedo a passarada
Foi subindo para o céu
Em bandos em revoadas
Também cedo bem cedinho
Mestre sapo pulou,
Se vestiu, saiu da toca,
Foi procurar o urubu.
Foi andando , foi andando
E ao chegar numa clareira
Viu o urubu cochilando
Lá no alto da paineira
O urubu estava bem alto
Mas por sorte o violão
Estava dependurado
Num galho rentinho ao chão
Mestre sapo deu um pulo
E rápido num momento
Afastou algumas cordas
E penetrou no instrumento
E escutou de lá de dento
O urubu dizer de fora:
.
.
" Valha-me São Benedito .
Quase que eu perco a hora ! "
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O urubu pegou no pino
Bateu asas e voou
Mas estranhando o seu peso
Pelo buraco espiou
Tanto espiou que encontrou
o sapo lá bem no fundo
E sacudindo o instrumento
Cantou o loforibundo:
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" Sai daí sapo danado
Sapo feio, jururu
Sapo não vai para o céu
Na viola de urubu
Vou jogar você lá embaixo
- Tá errado seu doutor
Desta vez eu te esburracho
- Tá errado, sim senhor
Mas sapório eu te perdôo
Bicho feio da lagoa
Só pra ver no fim da festa
Como é que sapo voa
Só pra ver no fim da festa,
ôôôôôôôôô
Como é que sapo voa !"
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Quando chegaram ao céu
A festa estava animada
E já de longe se ouvia
O canto da passarada
Mosquitos cantando finos
Besouros cantando grosso :
.
“Sobe, sobe, balãozinho
Balãozinho multicor
Vai ser mais uma estrelinha
Pra louvar nosso senhor”
.
“Sobe, sobe, balãozinho
Balãozinho multicor
Vai ser mais uma estrelinha
Pra louvar nosso senhor”
.
Foi chegando e foi tirando
a garça para dançar
Porém a garça orgulhosa
Nem parou pra conversar
.
.
Foi tirar a juriti.
Quase levou um supaco
Do gavião que exclamou :
" Dama não dança com sapo !"
Desanimado com todos
Cansado de tudo enfim
Mestre sapo adormeceu
No balanço no jardim
Quando acordou exclamou:
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" Valha-me Nossa Senhora
A festa já se acabou
O urubu já foi embora ... "
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E começou a pular
Já estava quase maluco
Quando avistou lá num canto
O trombone do Macuco
A orquestra foi a última
a deixar o firmamento
Cada músico levando consigo
O seu instrumento .
Mestre Macuco soprou
Mas a música não saiu
Puxou a vara com força
E foi isso que se ouviu:
.
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"Tom ... Tom... Tom....
Tá errado
Tom to-ro-rom-tom-tom
Tá errado
Tom ... Tom... Tom....
Tá errado
Tom to-ro-rom-tom-tom
Tá errado !
Pois então se tá errado
Por que não toca direito?
Eu nunca toquei tão mal
Em dias da minha vida
Eu acho que o meu trombone
Está com a vara entupida ."
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E soprou com tanta força
Da bochecha e do pulmão
Que o sapo saiu de dentro
Como um tiro de canhão
Saiu e se despencou
De lá de cima o coitado
Vendo uma pedra cá embaixo
Gritava desesperado:
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-Afasta pedra senão te esborracho
-Afasta pedra senão te esborracho
-Afasta pedra senão te esborracho !
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BUMMMMMMMMMMMMMMM!
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Mas a pedra não se afastou
Pedra não anda nem fala
E o sapo se esborrachou
Não morreu
Mas ficou feito
Seu corpo ficou disforme
Os olhos se esbugalharam
A boca ficou enorme
.
E os sapos que eram redondos
Muito bonitos outrora
Ficaram assim tão feios
E são tão chatos agora
Escutem meus amiguinhos
Este conselho acertado
Ir a festa, sem convite?
Escutem bem:
.
" TÁ ERRADO ! "
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