25 de dez. de 2008

Canto de Natal




O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.
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Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.
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Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino,
Seu nome é Jesus!
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Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino!
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Manuel Bandeira
(Estrela da vida inteira. Editora José Olympio, p.168)

Estrela do menino pobre


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ESTRELA DO MENINO POBRE
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Uma estrela pequenina,
cintilante, de brocal,
anuncia na vitrina:
hoje é dia de Natal.
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O menino da favela,
sem camisa,
pés no chão,
acha a estrela muito bela
e quer tê-la em sua mão.
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Por amá-la e por querê-la,
fica tempo a meditar:
Como é bela a minha estrela !
e depois, põe-se a chorar.
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Um milagre, enquanto chora,
Deus acaba de operar:
e o menino vai-se embora
c'o uma estrela em cada olhar !
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Gióia Júnior
(Canto Maior. Editora JUERP, p. 59)

6 de nov. de 2008

HOJE É DIA DE CECÍLIA !

Essa postagem faz parte da blogagem coletiva HOJE É DIA DE CECÍLIA que está homenageando Cecília Meireles na data do seu nascimento .
Acompanhando as postagens desse blog que trazem recordações da minha infância pelos versos de poemas ensinados por minha mãe , escolhi essa crônica de Cecília:


Foto do sobrado do Cosme Velho
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IMAGENS DA INFÂNCIA
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O grande livro está longe, mas as pálidas imagens ainda respiram: elas saem dos seus primitivos lugares, aparecem onde não as esperamos, desdobram-se de outras figuras que nos apresentam, acordam as primeiras experiências, as indeléveis curiosidades do nosso amanhecer no mundo.
Eis as velhinhas, as dos doces olhos cheios de coisas sábias, - as que nos ensinaram o tempo com as intricadas linhas de seu rosto, com as grossas veias de suas mãos quase paradas.
A doçura de viver está nas jovens sorridentes, que oscilam nos balanços embaixo das árvores. Olhai para os seus longos vestido flutuantes, para as suas tranças com fitas, para os seus olhos rápidos como borboletas – e as flores caindo dos ramos, e o sol bordado no chão seus amarelos arabescos...
A bondade está ali, detrás daquela porta que se abre em silêncio, na sala onde a mesa está para sempre posta, com duas mãos que caminham, servindo a fruta, o leite, o pão. O relógio marca o dia e a noite, como pára vidas sem fim. Ninguém estremece, Ninguém se lembra da morte. Todos se sucedem, todos se lembram uns dos outros, todos estão ali à espera dos que chegam. Para socorrer.

(...) Acertaremos os nossos relógios pelos modestos pais de família que vêm de tão longe, de tão longe – oh! De que mundos ignotos chegam os pais de família ...? – com seus embrulhos no gancho do dedo, com os seus jornais embaixo do braço, e, às costas, a sua fadiga de um dia inteiro fazendo um trabalho monótono e incessante... As crianças farejam os embrulhos como gatos, como cães.. “Café!” “Queijo!” “Sabonete!” Como são felizes as crianças , quando os pais chegam, de tão longe, de tão longe, com os embrulhos pendurados nos dedos...
Nos caramanchões que o luar vagamente desvenda estão os noivos inacreditáveis, falando como personagens de romance. Esses não são os que amanhã veremos casados, são os que apenas vivem o episódio de novos, com luares, caramanchões, insônias, pianos cheios de valsas, cartas cor de ametista, que um dia ficam sem resposta.
As professoras estão limpando o bico da pena em flanelas verdes. “Como se chama o rio maior do mundo?” Como se chamará? Estamos procurando pelas paredes, pela janela aberta, lá pelo céu azul, com muitos anjos invisíveis... Como se chamará ? Se os anjos descessem e dissessem! Mas não descem nem dizem.
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(...) Os vendedores de doce desaparecem pelas esquinas, soprando numa gaita de folha. O instinto bucólico fica de longe seguindo-os, e depois deixa-se esmagar pelas rodas dos carros nas ruas de pedra, enquanto leves campainhas oscilam e esmorecem no crepúsculo.
As crianças patinam nas praças. Os estudantes fazem vaidosos pescoços à porta dos cinemas. Os cocheiros dos coches fúnebres voltam dos cemitérios chicoteando os cavalos tristes. Todos estamos pulando corda, e não morreremos nunca. Mas os cães uivam, e a criada vira o chinelo debaixo da cama, antes de dormir.
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(São Paulo, JORNAL DE NOTÍCIAS, 12 de novembro de 1948)
In : Cecília Meireles - Obra em Prosa - CRÔNICA EM GERAL - Tomo 1. Editora Nova Fronteira, p. 279-281



24 de out. de 2008

Blogagem coletiva: HOJE É DIA DE CECÍLIA!


Photobucket

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O dia 7 de novembro marca mais um aniversário do nascimento da escritora Cecília Meireles. O blog NA DANÇA DAS PALAVRAS deseja comemorar esta data distribuindo a poesia de Cecília pela blogosfera com a blogagem coletiva: HOJE É DIA DE CECÍLIA!
Clique no selinho e participe também dessa festa !

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25 de mai. de 2008

25 DE MAIO: Dia Internacional das Crianças e dos Adolescentes Desaparecidos

Fotografia de Leonor Cordeiro

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(...) Mas por que desaparece tanta gente, todos os dias, em redor de nós, sem que possamos admitir que esses desaparecimentos sejam de origem lírica?
Ouço pelo rádio as famílias, os amigos, os conhecidos que indagam, inquietos, que reclamam, descrevem, dão sinais, indicam pistas. Há desaparecidos de todas as idades e cores, e ambos os sexos, das mais variadas condições sociais: quem tiver notícias de seu paradeiro é favor informar às pessoas aflitas que os procuram.
Mas quem vai saber o paradeiro da mocinha de blusa cor-de-rosa e saia amarela que, assim colorida, bateu asas sem se despedir dos parentes? Quem viu o menino de blusão verde e sapatos novos que saiu de casa pela tardinha e lá se foi andando – e irá andando enquanto tiver boas solas nos sapatos – por muito que os pais inconsoláveis o estejam chorando e os vizinhos não possam entender tamanha ingratidão? Que foi feito da velhinha, um pouco desmemoriada, que saiu para a missa e depois entrou por um caminho desconhecido, com seu vestido cinzento, sua bolsinha de verniz e duas travessas no cabelo?
Há os desaparecidos recentes: de ontem, da semana passada, de há um mês ou dois. Assim mesmo recentes não se encontram vestígios seus em parte alguma. Foram raptados? Ficaram debaixo do trem? Subiram para algum disco voador? Afogaram-se? Partiram para o secreto paraíso onde não querem ser importunados? Embarcaram para Citera? Quem sabe o que lhes aconteceu?
Mais comoventes, porém, é a busca de desaparecidos antigos: “procura-se uma conhecida que há três anos não se encontra...” Para onde foi a jovem Marília que há cinqüenta anos disse que ia trabalhar no Rio de Janeiro?... Que é feito do rapaz moreno, com um sinal no queixo, que usava um cordãozinho de outro com a imagem de São Jorge?
Todas essas pessoas e muitas outras estão sendo procuradas, pacientemente, com anúncios pelos jornais e nas emissoras. Uma incansável busca. Gente de todos os Estados do Brasil, gente com vários compromissos: eram noivos, eram chefes de família, eram donas-de-casa.. Gente miúda, que não se esperava desse capaz de meter-se em aventuras: meninotas e rapazinhos em idade escolar; mocinhas que pareciam tímidas e assustadas, moços ainda sem emprego...
(...) Mas os afetos vigilantes continuam, inconformados, a recordar os ausentes – todos os dias novos, todos os dias mais numerosos – e, por humildes lugares, famílias tristes cultivam longos canteiros de saudades.
(Trechos da crônica - GENTE DESAPARECIDA)
Cecília Meireles. Escolha o Seu Sonho - Editora Record, p.43-45
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Você sabia que o Brasil registra mais ou menos 40 mil desaparecimentos de crianças e adolescentes por ano?
Você sabia que aqui não existe uma rede ou cadastro nacional para registrar informações dos desaparecidos?
Você sabia que não há comunicação entre a polícia militar, civis e federal, em relação ao desaparecimento de uma criança?
Precisamos criar no Brasil o ALERTA AMBER .
Esse vídeo vai explicar para você o que é o ALERTA AMBER:
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Você pode participar do MOVIMENTO PELA CRIAÇÃO DO ALERTA AMBER NO BRASIL assinando a petição que será encaminhada à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal . CLIQUE AQUI PARA ASSINAR !
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