29 de jul. de 2006

A FESTA NO CÉU



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Em certas manhãs de junho
em tempos que lá se vão
junto a lagoa do sapo
lá no meio do sertão
mestre sapo numa pedra
redondo como uma bola
ensinava tabuada
aos sapinhos lá da escola :
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"- Quatro vezes quatro , quatro,
Com mais quatro , quatro ! "
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"- Tá errado ! "
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A velha dona Araponga
que era o arauto da floresta
fazendo um berreiro enorme
anunciava uma festa:
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“São Pedro manda avisar
Aos bichos deste sertão
A grande festa no céu
Na noite de são João .
Não deve faltar na festa
Nem um bicho voador
Do mosquito a borboleta
Do colibri ao condor
E para bicho sem asa
Não fazer vestido à-toa
Manda avisar que a festança
É só pra bicho que voa !”
. .
A madame Saracura
Que se julgava a mais bela
E andava as turras com um sapo
Que a chamara magricela
Ao ouvir a tal notícia
Pulou de louca alegria
E em dueto com o marido
Começou a cantoria:
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Vai haver festa no céu
Vou levar meu violão
Vou cantar a noite inteira,
Bam, banlão, bambão, bambão
A festança vai ser boa
Vai ter canjica e quentão
Mas só vai bicho que voa,
Bam, banlão, bambão, bambão
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Quando a canção terminou
o sapo fez um escarcéu
E saiu gritando:
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"- Oxe ! Eu vou a festa no céu !
Saracura ta pensando que eu só vivo na lagoa?
Vou mostrar a magricela
Vou provar que sapo voa
Vou tirar minha casaca lá do fundo do baú
Já decidi
Vou a festa, no violão do urubu !"
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Chegou a manhã da festa
Desde cedo a passarada
Foi subindo para o céu
Em bandos em revoadas
Também cedo bem cedinho
Mestre sapo pulou,
Se vestiu, saiu da toca,
Foi procurar o urubu.
Foi andando , foi andando
E ao chegar numa clareira
Viu o urubu cochilando
Lá no alto da paineira
O urubu estava bem alto
Mas por sorte o violão
Estava dependurado
Num galho rentinho ao chão
Mestre sapo deu um pulo
E rápido num momento
Afastou algumas cordas
E penetrou no instrumento
E escutou de lá de dento
O urubu dizer de fora:
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" Valha-me São Benedito .
Quase que eu perco a hora ! "
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O urubu pegou no pino
Bateu asas e voou
Mas estranhando o seu peso
Pelo buraco espiou
Tanto espiou que encontrou
o sapo lá bem no fundo
E sacudindo o instrumento
Cantou o loforibundo:
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" Sai daí sapo danado
Sapo feio, jururu
Sapo não vai para o céu
Na viola de urubu
Vou jogar você lá embaixo
- Tá errado seu doutor
Desta vez eu te esburracho
- Tá errado, sim senhor
Mas sapório eu te perdôo
Bicho feio da lagoa
Só pra ver no fim da festa
Como é que sapo voa
Só pra ver no fim da festa,
ôôôôôôôôô
Como é que sapo voa !"
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Quando chegaram ao céu
A festa estava animada
E já de longe se ouvia
O canto da passarada
Mosquitos cantando finos
Besouros cantando grosso :
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“Sobe, sobe, balãozinho
Balãozinho multicor
Vai ser mais uma estrelinha
Pra louvar nosso senhor”
.
“Sobe, sobe, balãozinho
Balãozinho multicor
Vai ser mais uma estrelinha
Pra louvar nosso senhor”
.
Foi chegando e foi tirando
a garça para dançar
Porém a garça orgulhosa
Nem parou pra conversar
.
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Foi tirar a juriti.
Quase levou um supaco
Do gavião que exclamou :
" Dama não dança com sapo !"
Desanimado com todos
Cansado de tudo enfim
Mestre sapo adormeceu
No balanço no jardim
Quando acordou exclamou:
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" Valha-me Nossa Senhora
A festa já se acabou
O urubu já foi embora ... "
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E começou a pular
Já estava quase maluco
Quando avistou lá num canto
O trombone do Macuco
A orquestra foi a última
a deixar o firmamento
Cada músico levando consigo
O seu instrumento .
Mestre Macuco soprou
Mas a música não saiu
Puxou a vara com força
E foi isso que se ouviu:
.
.
"Tom ... Tom... Tom....
Tá errado
Tom to-ro-rom-tom-tom
Tá errado
Tom ... Tom... Tom....
Tá errado
Tom to-ro-rom-tom-tom
Tá errado !
Pois então se tá errado
Por que não toca direito?
Eu nunca toquei tão mal
Em dias da minha vida
Eu acho que o meu trombone
Está com a vara entupida ."
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E soprou com tanta força
Da bochecha e do pulmão
Que o sapo saiu de dentro
Como um tiro de canhão
Saiu e se despencou
De lá de cima o coitado
Vendo uma pedra cá embaixo
Gritava desesperado:
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-Afasta pedra senão te esborracho
-Afasta pedra senão te esborracho
-Afasta pedra senão te esborracho !
.
BUMMMMMMMMMMMMMMM!
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Mas a pedra não se afastou
Pedra não anda nem fala
E o sapo se esborrachou
Não morreu
Mas ficou feito
Seu corpo ficou disforme
Os olhos se esbugalharam
A boca ficou enorme
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E os sapos que eram redondos
Muito bonitos outrora
Ficaram assim tão feios
E são tão chatos agora
Escutem meus amiguinhos
Este conselho acertado
Ir a festa, sem convite?
Escutem bem:
.
" TÁ ERRADO ! "
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7 comentários:

Anônimo disse...

Adorei. Achei esta letra neste blog, por acaso, mas trou.xe-me lembranças muito felizes da minha infância.

Anônimo disse...

legal você curtir e valorizar poesia, eu nunca curtir mais outro dia fui apresentada a um poeta e me encantei por ele , não sei se você conhece, é : Solano Trindade.... o cara é fera

Anônimo disse...

eu usei poesias desse blogger para fazer um trabalho na faculdade, contação de história com textos em diferentes modalidades, e quanto a solano trindade o poeta é pernambucano e morreu em 24 de julhode 74, comemora-se o centenário de seu nascimento este ano.

Unknown disse...

é muito legal , pra mim que eu sõou criança , eeu fiko feliz , mais ele é muito grande , e eu preciseei disso pra copiar em meu caderno , amei , amei , amei , amei , kuando eu crescer vou ler isto de novo !!! :D

Unknown disse...

Usei Para Fazer Um Trabalho , sim e gostei MUITO

Unknown disse...

Saudações! Chamo-me Carla Borges e sou professora universitária. Acabo de concluir meu mestrado e, na dissertação, que trata dos contos infantis, utilizei-me de uma imagem disponível em vosso blog. Agora, que pretendo transformar meu material em livro para publicação, gostaria de saber se as imagens que dispõe são de domínio público ou, caso não, se autorizam a veiculação das imagens, as quais, certamente, virão devidamente referenciadas, indicando o endereço do site em que se encontram, o que se configura também como uma forma de divulgação de vosso site.

Aguardo retorno imediato.

Desde já agradeço a atenção e a certa compreensão.

Carla Borges.

Unknown disse...

Saudações! Chamo-me Carla Borges e sou professora universitária. Acabo de concluir meu mestrado e, na dissertação, que trata dos contos infantis, utilizei-me de uma imagem disponível em vosso blog. Agora, que pretendo transformar meu material em livro para publicação, gostaria de saber se as imagens que dispõe são de domínio público ou, caso não, se autorizam a veiculação das imagens, as quais, certamente, virão devidamente referenciadas, indicando o endereço do site em que se encontram, o que se configura também como uma forma de divulgação de vosso site.

Aguardo retorno imediato.

Desde já agradeço a atenção e a certa compreensão.

Carla Borges.